Escrevi uma singela dramatização sobre a '"Parábola do Filho Pródigo" e postarei em partes. Posto hoje a primeira parte. Leiam e deixem seus comentários.
O moço estava aflito, ele queria mais. Estava cansado
daquela vida e queria conhecer novos horizontes, novas perspectivas que suprissem
seus devaneios. Aquela vida na fazenda estava chata demais, acordar pela manhã
ao som dos pássaros, o mugir das vacas, o cheiro agradável de mato que trazia o
frescor ao seu olfato já não tinha mais graça.
Quando
descia de seu quarto e via a mesa posta com o leite fresco que acabava de ser
ordenhado, manteiga à moda do papai, os pães que exalavam o aroma quem “empesteava”
toda vizinhança deixando-os loucos, aquele maravilhoso e fresco café convidava-o
a resignificar seus últimos pensamentos. Sentados à mesa, pai e seus dois
filhos, com toda a fartura e naquele cenário natural onde se podia avistar não
muito longe dali montanhas que desenhavam a mais bela paisagem no céu e o
barulho da correnteza do riacho que era formado pela bela cachoeira que surgia
de entre as pedras por detrás da casa, na suposta harmonia que imperava naquele
ambiente, ele não podia negar que a vida havia lhe sido muito generosa. Não
conhecia o que havia além das montanhas, mas já ouvira histórias das mazelas
que viviam muitos por ali afora, todavia, seu desejo incontrolável de
ultrapassar as porteiras daquela fazenda e tornar-se um peregrino no mundo era parte
imanente dele. Ali mesmo na mesa sua mente vagueava pelas possibilidades mundo
afora, seu pai por vezes percebia e interrogava seu caçula sobre o que pensava,
mas o menino sentia-se envergonhado com a seus próprios desejos e por hora
decidiu guardá-los somente para si.
Seu irmão
era um rapaz trabalhador e dedicado ao que fazia, segundo os conceitos da pós-modernidade
poderia até ser chamado de “workaholic”, para ele não havia tempo ruim, com sol
ou chuva estava sempre disposto a empunhar a sua enxada e labutar. Nesta vida,
nunca se pôs a perguntar como não tinha percebido a infância de seu irmão,
nunca brincou com ele, nunca ninou-o. O trabalho excessivo havia tornado aquele
homem num insensível preocupado somente com as demandas materiais e suas
satisfações e nunca com o humanismo que o rodeava.
Nem bem
terminara de tomar seu café o filho mais velho, anos mais velho, levanta-se
dizendo que a obrigação o chamava. Sai para a varanda, onde senta num
banquinho, coloca sua bota ainda suja do barro do dia anterior, coloca seu chapéu,
empunha a sua enxada e coloca-se em caminhada rumo ao trabalho. Era um obcecado,
sem razão, não percebia o universo que o cercava, nem sequer se despediu de seu
irmão, o menino ainda tentou acenar com a mão, mas foi inútil. Seu pai era um
observador, sempre de poucas palavras, mas tinha como característica forte
perceber tudo que acontecia a sua volta, abraçou seu filho e não disse nada,
simplesmente o abraçou e aquele abraço trazia consigo o signo do amor, da
benevolência, do cuidado, era um lampejo de segurança e compreensão. Os braços
fortes de seu pai e o calor de seu corpo acalentavam a sua alma, por um momento
sentiu remorso de sua vontade de partir, mas foi um mero remorso.
Todas as
possibilidades de explorar aquela natureza ao seu redor, nadar no riacho, ouvir
o cântico dos pássaros, nada daquilo era suficiente para dar fim a sua monotonia,
sentia-se um peixe fora da água. Assentado numa pedra vagueava em pensamentos,
não podia ainda trabalhar, seu irmão não se interessava por seus assuntos, não
participou de sua infância nem de sua adolescência, tinha sempre perto de si
aquilo que aprendeu chamar de “capangas” de seu pai, sem se dar conta que
estavam ali para sua proteção. Sentia sede da liberdade, definitivamente queria
respirar novos ares, percebia que se continuasse ali seu peito iria explodir. Foi
quando tomou coragem, embora com muita vergonha, de um salto levantou-se e
correu para casa, seu guardião, o “capanga” não deu conta de acompanhá-lo, seu
pai avistou-o correndo ao longe e se deliciou com sua diversão, esperava recebê-lo
com um grande abraço, mas qual não foi a surpresa quando ouviu de seu filho
algo que lhe chocou.
- Papai eu
quero ir embora e para isso eu preciso de dinheiro, me dê o que for meu.
Aquilo foi
sem dúvida dolorido demais, mas o homem era experiente, já havia vivido mais
que seus dois filhos juntos e assim deu-lhe o dinheiro e assistiu com muito
pesar a marcha de seu filho rumo ao que ele sabia – o fracasso.
Com muito
dinheiro em sua bolsa e muito remorso e vergonha na mente o rapaz sai, cruza a
porteira e segue. Sabia que o que havia feito era nojento, aético e
desrespeitoso, mas estava decidido e continuou andando sem olhar para trás.
2 comentários:
Excelente reflexao. Que o Senhor continue abençoando e dando-lhe infindas inspirações maravilhosas.
Muito obrigado amado pastor Elias Croce. O senhor é sem dúvida um de meus referenciais. Deus abençoe.
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