terça-feira, 17 de julho de 2012

O FILHO PRÓDIGO


Escrevi uma singela dramatização sobre a '"Parábola do Filho Pródigo" e postarei em partes. Posto hoje a primeira parte. Leiam e deixem seus comentários.

                                     

                 O moço estava aflito, ele queria mais. Estava cansado daquela vida e queria conhecer novos horizontes, novas perspectivas que suprissem seus devaneios. Aquela vida na fazenda estava chata demais, acordar pela manhã ao som dos pássaros, o mugir das vacas, o cheiro agradável de mato que trazia o frescor ao seu olfato já não tinha mais graça.
            Quando descia de seu quarto e via a mesa posta com o leite fresco que acabava de ser ordenhado, manteiga à moda do papai, os pães que exalavam o aroma quem “empesteava” toda vizinhança deixando-os loucos, aquele maravilhoso e fresco café convidava-o a resignificar seus últimos pensamentos. Sentados à mesa, pai e seus dois filhos, com toda a fartura e naquele cenário natural onde se podia avistar não muito longe dali montanhas que desenhavam a mais bela paisagem no céu e o barulho da correnteza do riacho que era formado pela bela cachoeira que surgia de entre as pedras por detrás da casa, na suposta harmonia que imperava naquele ambiente, ele não podia negar que a vida havia lhe sido muito generosa. Não conhecia o que havia além das montanhas, mas já ouvira histórias das mazelas que viviam muitos por ali afora, todavia, seu desejo incontrolável de ultrapassar as porteiras daquela fazenda e tornar-se um peregrino no mundo era parte imanente dele. Ali mesmo na mesa sua mente vagueava pelas possibilidades mundo afora, seu pai por vezes percebia e interrogava seu caçula sobre o que pensava, mas o menino sentia-se envergonhado com a seus próprios desejos e por hora decidiu guardá-los somente para si.
            Seu irmão era um rapaz trabalhador e dedicado ao que fazia, segundo os conceitos da pós-modernidade poderia até ser chamado de “workaholic”, para ele não havia tempo ruim, com sol ou chuva estava sempre disposto a empunhar a sua enxada e labutar. Nesta vida, nunca se pôs a perguntar como não tinha percebido a infância de seu irmão, nunca brincou com ele, nunca ninou-o. O trabalho excessivo havia tornado aquele homem num insensível preocupado somente com as demandas materiais e suas satisfações e nunca com o humanismo que o rodeava.
            Nem bem terminara de tomar seu café o filho mais velho, anos mais velho, levanta-se dizendo que a obrigação o chamava. Sai para a varanda, onde senta num banquinho, coloca sua bota ainda suja do barro do dia anterior, coloca seu chapéu, empunha a sua enxada e coloca-se em caminhada rumo ao trabalho. Era um obcecado, sem razão, não percebia o universo que o cercava, nem sequer se despediu de seu irmão, o menino ainda tentou acenar com a mão, mas foi inútil. Seu pai era um observador, sempre de poucas palavras, mas tinha como característica forte perceber tudo que acontecia a sua volta, abraçou seu filho e não disse nada, simplesmente o abraçou e aquele abraço trazia consigo o signo do amor, da benevolência, do cuidado, era um lampejo de segurança e compreensão. Os braços fortes de seu pai e o calor de seu corpo acalentavam a sua alma, por um momento sentiu remorso de sua vontade de partir, mas foi um mero remorso.
            Todas as possibilidades de explorar aquela natureza ao seu redor, nadar no riacho, ouvir o cântico dos pássaros, nada daquilo era suficiente para dar fim a sua monotonia, sentia-se um peixe fora da água. Assentado numa pedra vagueava em pensamentos, não podia ainda trabalhar, seu irmão não se interessava por seus assuntos, não participou de sua infância nem de sua adolescência, tinha sempre perto de si aquilo que aprendeu chamar de “capangas” de seu pai, sem se dar conta que estavam ali para sua proteção. Sentia sede da liberdade, definitivamente queria respirar novos ares, percebia que se continuasse ali seu peito iria explodir. Foi quando tomou coragem, embora com muita vergonha, de um salto levantou-se e correu para casa, seu guardião, o “capanga” não deu conta de acompanhá-lo, seu pai avistou-o correndo ao longe e se deliciou com sua diversão, esperava recebê-lo com um grande abraço, mas qual não foi a surpresa quando ouviu de seu filho algo que lhe chocou.
            - Papai eu quero ir embora e para isso eu preciso de dinheiro, me dê o que for meu.
            Aquilo foi sem dúvida dolorido demais, mas o homem era experiente, já havia vivido mais que seus dois filhos juntos e assim deu-lhe o dinheiro e assistiu com muito pesar a marcha de seu filho rumo ao que ele sabia – o fracasso.
            Com muito dinheiro em sua bolsa e muito remorso e vergonha na mente o rapaz sai, cruza a porteira e segue. Sabia que o que havia feito era nojento, aético e desrespeitoso, mas estava decidido e continuou andando sem olhar para trás. 

2 comentários:

Elias Croce disse...

Excelente reflexao. Que o Senhor continue abençoando e dando-lhe infindas inspirações maravilhosas.

A ERA DOS EXTREMOS disse...

Muito obrigado amado pastor Elias Croce. O senhor é sem dúvida um de meus referenciais. Deus abençoe.