quarta-feira, 9 de novembro de 2011

História e memória coletiva - Silêncio define o que deve ou não ser lembrado

O silêncio pode ser uma forma de controlar o que é transmitido. Exercido pelos grupos sobre as memórias individuais, ele define o que deve ou não deve ser lembrado para compor a memória coletiva.

No decorrer da história, muitas vezes isso se manifesta de forma clara. Nesses casos, o controle é um inimigo que podemos identificar e contra o qual podemos lutar. Mas também surge de forma mais sutil, nem por isso menos autoritária e violenta.

Sem interlocutores
Quando não se encontram interlocutores, quando se tem a sensação de que o que for falado não será compreendido, não existe um contexto para acolher o conteúdo das memórias individuais.

A ausência desse contexto resulta de um processo de declínio da memória histórica, marcado pela quase impossibilidade, hoje, de tomarmos posse da nossa própria história. Esse processo parece, muitas vezes, não ter agentes. Isso dificulta a identificação das forças que atuam para silenciar as memórias individuais e impede que se questione o destino de alguns acontecimentos na história.

Controle da memória coletiva
A reconstrução do passado está limitada porque encontra dificuldades em ser elaborada. E também pela ação dos próprios agrupamentos a que pertencemos: eles controlam a configuração da memória coletiva.

Esses agrupamentos se empenham em reter do passado o que convém à sua representação do presente. Esta é moldada por quem dispõe dos meios para sua difusão. Com esse objetivo, são escolhidos aqueles que estão autorizados a falar. É um trabalho de enquadramento da memória e de controle da imagem oficial.

Os discursos organizados dão à memória coletiva uma certa configuração a partir da definição do que será lembrado e de quais lembranças serão proibidas.

Os conteúdos da história individual são impedidos de contribuir para uma reflexão sobre o passado. São esquecidos, em virtude da ação dos discursos organizados, ou não são visíveis, porque se encontram diluídos na memória coletiva.

Apenas o autorizado permanece
O que está autorizado a ser lembrado se cristaliza, permanece no tempo e dá um determinado destino aos acontecimentos históricos.

Esse destino seria outro, se o conteúdo das memórias individuais pudesse ser revelado, incorporado à memória coletiva e ganhasse visibilidade.

O processo de enquadramento da memória implica na destituição do homem, principalmente do homem simples, da condição de fazer história. O conteúdo das histórias individuais é silenciado e as ações de grupos ou homens que não pertençam aos círculos oficiais são praticamente impedidas de ganhar relevância.



*Celina Fernandes Gonçalves Bruniera é mestre em sociologia da educação pela Universidade de São Paulo e assessora educacional.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/sociologia/historia-e-memoria-coletiva-silencio-define-o-que-deve-ou-nao-ser-lembrado.jhtm

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